Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade mas tu não deves esquecer. Tu tornas-te responsável por aquilo que cativas.
— Antoine de Saint-Exupéry

Entre o Gesto e a Alma: A Arte de Dirigir Música

A música, na sua sublime essência intangível e misteriosa, transcende os limites da mera perceção sensorial. Para um maestro o desafio reside em captar o significado de uma obra musical e transmiti-lo através do gesto, tentando definir o indefinível e comunicar o inexprimível.

A procura de significado numa obra musical, ainda que apenas aflorar essa dimensão, requer “enamoramento” constante, compromisso, dedicação, estudo e prática inabaláveis. Esta jornada, carregada de incertezas e espiritualmente dolorosa, é marcada por momentos que oscilam entre beleza, intensidade, excitação e a natureza efémera, subjectiva e fugaz de tal experiência. Nesta procura corre-se sempre o risco de perder a essência da experiência musical per si, perder a sua dimensão espiritual e transcendental. Como maestro, acredito que a essência da arte da direção musical é procurar uma envolvência no fenómeno sonoro sem perturbar cada momento sublime, relativizando o “sentido”. Trata-se de corporalizar e expressar a “experiência perceção” através do gesto, mantendo o delicado equilíbrio invisível entre som, espaço, tempo e consciência.

A música vive em mim, em ti, na consciência sobre o mundo à nossa volta. Manifesta-se nos detalhes mais subtis do quotidiano, na energia que irradiamos e no “nós” que se constrói em cada momento de partilha. A verdadeira Música habita na nossa mente, nos sonhos e nos nossos corações. Existe no compromisso e respeito que nutrimos por ela e na forma como, através dela, sensibilizamos e inspiramos pessoas e contribuímos para tornar o Mundo um lugar melhor.

Esta será a nossa resposta à violência: fazer música mais intensa, mais bela e mais devotadamente do que nunca
— Leonard Bernstein